domingo, 22 de julho de 2007

Pauliteiras de Valcerto em Vila Real


A origem da dança dos pauliteiros não é consensual. O Padre João Morais Pessanha e outros autores atribuem a sua origem à clássica dança pírrica, guerreira por excelência. Para outros, tem vestígios de danças populares do sul de França e ainda apresenta semelhanças com a dança das espadas dos Suíços na idade média. Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região.

Texto publicado em: A Voz de Trás-Os-Montes

O Dr. José Leite de Vasconcelos não aceita esta teoria justificando que a dança introduzida em Roma e depois espalhada pelo império nada tinha em comum com a dança pírrica. Na dança pírrica, os dançantes, com armas e escudos de pau, simulavam o ataque e a defesa na batalha, usavam túnicas vermelhas, cinturões guarnecidos de aço e os capacetes dos músicos eram emplumados. Os bailadores colocavam-se em duas filas e dançavam ao som de flauta.

O Abade de Baçal vê muitas semelhanças entre esta dança e a dança dos pauliteiros, nomeadamente na substituição das túnicas pelas saias, o escudo pelo lenço sobre os ombros, os chapéus enfeitados e a utilização da flauta pastoril. A própria evolução da dança, parece ter muitas semelhanças, com várias partes, perseguição, luta, saltos e a dança da vitória. Algumas das mais famosas danças retractam bem essas semelhanças como seja o Salto do Castelo (saltos) e o vinte cinco de roda (dança da vitória).

Mais recentemente, o Padre Mourinho concluiu que se trata de uma dança comum à Península Ibérica; que há nela tradições militares dos povos autóctones, dos greco-romanos, medievais e outras. Embora possa ter existido anteriormente terá vindo com o repovoadores do reino de Leão.

Se na origem desta dança não há unanimidade, há-a, sem dúvida, na origem do grupo de Pauliteiras de Valcerto, terra onde já há muito tempo há pauliteiros. A ideia de formar um grupo feminino já fervilhava na mente de várias moças da aldeia há algum tempo. No dia 1 de Agosto de 2002 a Flávia Felgueiras e a sua colega Isabel Sardinha resolveram, depois de várias conversas sobre o assunto, pôr mãos à obra e formar com outras amigas da aldeia um grupo só de raparigas. Foi com grande entusiasmo que quebraram a tradição de esta dança ser só para homens.

No dia 2 tiveram o primeiro ensaio, sob a orientação dos Senhores António José Sardinha e Silvestre Martins que, muito amavelmente, se disponibilizaram a gastar parte do seu tempo e do seu saber para o colocar ao serviço destas jovens que tinham em comum o interesse pela dança, tão típica e característica do planalto mirandês. No dia 10 de Agosto tiveram a primeira actuação pública, mostrando tudo quanto tinham aprendido em apenas oito dias. Sendo o primeiro grupo de pauliteiras da aldeia e o único na região, não admira que a curiosidade das pessoas que assistiram a esta primeira actuação fosse grande. As críticas a que tinham estado sujeitas até então, pressagiavam que isso acontecesse. No entanto saíram-se muito bem.

Neste momento confessam-se orgulhosas em poder contribuir para a divulgação e preservação da cultura de Mogadouro. Sem dúvida que o fazem da melhor maneira, irradiando alegria e mostrando que a dança dos pauliteiros não é só para homens.

As solicitações que têm para actuar em diversas ocasiões é bem demonstrativa da aceitação que o grupo tem, o que demonstra que a aposta de formar o grupo foi plenamente ganha.

Para o êxito cada vez maior que têm tido, tem sido fundamental o apoio das pessoas de Valcerto e do Município de Mogadouro. Os municípios têm um papel muito importante na preservação e divulgação da cultura e dos costumes dos seus naturais. Com o apoio a este grupo a Câmara Municipal de Mogadouro mostra grande sensibilidade para essa preservação e divulgação. É com o seu apoio que o Grupo de Pauliteiras de Valcerto, de que aqui falo, virá no próximo dia 15 de Setembro actuar no jantar de gala do 7º Congresso Interamericano de Computação Aplicada à Indústria de Processos (CAIP 2005) a realizar no Hotel Miracorgo. Muito agradeço, enquanto responsável pela organização do congresso, ao grupo na pessoa da Flávia Felgueiras e ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mogadouro, Dr. Morais Machado.

Manuel Cordeiro
Professor da UTAD
Texto publicado em: A Voz de Trás-Os-Montes

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